Fagna Cedraz

Das "nicas" no Sertão à missão de transformar vidas com as mãos

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Eu tinha apenas 8 anos quando meu pai chegou em casa com um presente que, à primeira vista, parecia simples: um conjunto rosa de alicate e espátula. Ele sorriu, estendeu o presente e disse:
“Filha, para ganhar dinheiro é preciso trabalhar. Vem aqui fazer as minhas unhas.”
Naquela tarde, sem saber, uma semente foi plantada no meu coração.

Cuidando das unhas dele, com toda a delicadeza que uma criança podia oferecer, recebi minhas primeiras “nicas” — como chamamos as moedas no Sertão da Bahia. Minhas mãos pequenas seguraram aquelas moedinhas como um tesouro. Pela primeira vez, senti o gosto da autonomia, da conquista, do valor do meu esforço.

Aquela brincadeira virou hábito. Cuidei das minhas próprias unhas, depois das vizinhas, das amigas, da família. Aquilo que começou como passatempo virou sonho — e esse sonho me sustentou por muitos anos.

Mas a vida, com sua forma inesperada de ensinar, trouxe um dos momentos mais difíceis da minha história: aos 17 anos, perdi minha mãe. Fui acolhida pela minha dinda, irmã dela, que me recebeu com todo o amor e me guiou num novo começo em Brasília. Foi doloroso, mas também um tempo de descobertas e reconstrução.

Dois anos depois, aquele sonho de menina ganhou asas. Conheci o Rio de Janeiro, a cidade que eu via pela TV e dizia:
“Um dia vou morar lá.”
E quando esse dia chegou, eu entendi que Deus estava me guiando. Aqui, Ele colocou pessoas incríveis no meu caminho, e eu abracei cada oportunidade com fé, esforço e gratidão.

Aos 27 anos, dei um passo importante: me matriculei em um curso técnico de podologia. Eu não tinha experiência, mas tinha vontade. Me joguei de corpo e alma. E ainda na fase do laboratório, fui chamada para um estágio em uma rede de lojas. Aprendi muito. Cresci. Me desafiei. Permaneci ali por sete anos, mas sabia que meu coração queria mais.

Foi assim que nasceu o Espaço Haja, na Tijuca — um sonho ousado, mas necessário. Um espaço criado para cuidar de pessoas como um todo, com técnica, afeto e propósito.

Hoje, com mais de 13 anos de experiência, duas pós-graduações, especializações em fototerapia, bandagem elástica e muito aprendizado, entendo que todo esse conhecimento não é só meu. Ele é um presente que compartilho a cada atendimento, a cada toque, a cada vida que cruzo.

A podologia, pra mim, vai além dos pés.
É restaurar autoestima, devolver confiança, aliviar dores físicas e emocionais.
É escutar com os olhos, tocar com o coração, cuidar de verdade.

E agora, além de atender no meu espaço, tenho a honra de ser professora no curso SUSP – Saúde dos Pés e Soluções Podológicas. Porque se um dia alguém acreditou em mim, hoje sou eu quem acredita nos outros.

Acredite: Deus tem planos maiores que seus medos.
Valorize as oportunidades, confie no processo e dê o primeiro passo.